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Partido dos Trabalhadores marca segundo aniversário da tentativa de golpe com saudação aos militares e denúncia da revolução socialista

Na quarta-feira, completaram-se dois anos da tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023, liderada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e por um setor das forças armadas.

O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva e sua esposa Rosangela da Silva participam de um evento pró-democracia marcando dois anos de suposta tentativa de golpe, quando apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro invadiram prédios do governo e pediram intervenção militar, em Brasília, Brasil, quarta-feira, 8 de janeiro de 2025. [AP Photo/Luis Nova]

Desde o último aniversário do levante fascista em Brasília, surgiram revelações críticas sobre a conspiração ditatorial e a ampla participação de forças militares que vão muito além dos apoiadores mais radicais de Bolsonaro.

A resposta do governo do Partido dos Trabalhadores (PT) a esses acontecimentos foi organizar uma cerimônia na quarta-feira que só diferiu do evento “Democracia Inabalada” do ano passado por ser ainda mais reacionária, enganosa e politicamente covarde.

O ponto principal do evento foi receber como convidados de honra os três comandantes das Forças Armadas, que, segundo relatos, estavam pouco à vontade em fazer sua aparição e se mantiveram em silêncio na sequência. Lula iniciou seu discurso explicando que eles haviam sido convidados “para mostrar a este país que é possível a gente construir as Forças Armadas com o propósito de defender a soberania nacional”.

A tentativa de Lula de se aproximar dos militares com base em um apelo nacionalista é absolutamente reacionária. Por um lado, ela visa ocultar deliberadamente os enormes antagonismos sociais do Brasil sob a bandeira da “unidade nacional”, a mesma invocada pelo golpe militar de 1964, apoiado pela CIA, para suprimir violentamente a oposição social e política. A ditadura militar usava o famoso slogan “Brasil, ame-o ou deixe-o” ao torturar, assassinar e exilar dezenas de milhares de trabalhadores e estudantes.

Ao mesmo tempo, Lula procura conter e encobrir a crise política aguda no país, alinhando-se com o mesmo aparato militar implicado na conspiração do golpe. Essa estratégia corresponde à agenda mais ampla da classe dominante brasileira, que busca enterrar as lições do 8 de Janeiro virando a realidade do avesso, apresentando os militares como os “salvadores da democracia”.

Essa narrativa é completamente absurda diante das evidências conclusivas de que todo o comando das Forças Armadas participou de discussões com o ex-presidente sobre o plano para derrubar o governo eleito e instalar uma ditadura. Há menos de um mês, o candidato a vice-presidente de Bolsonaro, general Walter Braga Netto, e vários oficiais de alta patente foram presos por envolvimento em um plano avançado para assassinar Lula, seu vice e o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Falsificando completamente esse episódio, que mobilizou forças essenciais do Estado burguês brasileiro, Lula afirmou ter escapado de uma tentativa de assassinato por “um bando de irresponsáveis, eu diria, um bando de aloprados”.

Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal e ex-presidente do TSE, também discursou no evento, atribuindo fraudulentamente a responsabilidade pela tentativa de golpe à liberdade de expressão na Internet. Prometendo avançar sua campanha para censurar as redes, ele anunciou: “A grande causa de tudo isso não foi debelada, não foi nem regulamentada”.

Naquela que talvez tenha sido a seção politicamente mais significativa de seu discurso, Lula contrapôs a defesa da democracia (burguesa) abstrata a uma condenação implacável do legado das revoluções sociais, em particular, a da Revolução Russa de 1917. Ele disse:

Não é possível que alguém consiga imaginar que exista uma melhor forma de governança... fora da democracia. Ela é tão boa que permitiu que um torneiro mecânico, sem diploma universitário [o próprio Lula], chegasse à Presidência. ... Isso não pode acontecer em outro regime. ... Pego a fotografia da Revolução Russa de 1917 e não tem um operário na foto. Você pega a foto da Revolução Cubana, também não tem operário, porque eram os intelectuais... porque historicamente sempre se pensou que trabalhador não prestava para nada, a não ser para trabalhar.

Desenvolvendo esse ponto, ele fez referência aos grandes movimentos grevistas da classe trabalhadora brasileira de 1968 a 1978, que desafiaram e derrubaram a ditadura militar há quatro décadas. Lula, que surgiu no cenário político ao lado de seu Partido dos Trabalhadores em meio a esse processo, concluiu: “a classe trabalhadora brasileira tem muito, muito a ver com a conquista da democracia neste país”.

As profundas contradições políticas na declaração de Lula foram reveladas pelo fato de ele ser incapaz de mencionar qualquer conquista significativa da classe trabalhadora brasileira além de elegê-lo, um ex-burocrata sindical corrupto, presidente pela terceira vez. De fato, o evento de quarta-feira foi notável por sua incapacidade de atrair qualquer público além da burocracia estatal de terno preto.

A denúncia da Revolução Russa por Lula é uma calúnia grosseira. É um fato estabelecido que a Revolução de Outubro de 1917 foi o resultado do apoio consciente da maioria da classe trabalhadora russa ao programa revolucionário socialista defendido pelo Partido Bolchevique de Lenin e Trotsky. A insurreição de outubro, a única tomada de poder bem-sucedida da classe trabalhadora na história, baseou-se nos soviets e nos comitês de fábrica que representavam diretamente praticamente todos os trabalhadores russos.

Embora o movimento guerrilheiro de Fidel Castro tenha sido liderado por nacionalistas pequeno-burgueses e nunca tenha se apoiado em tais órgãos de poder operário – e, portanto, não tenha sido uma revolução socialista que deu origem a um Estado operário –, a Revolução Cubana de 1959 conquistou o apoio das massas populares ao pôr fim à ditadura de Batista, apoiada pelos EUA.

Quando Lula fala de “democracia”, ele está simplesmente se referindo ao sistema eleitoral burguês e seus rituais que disfarçam o domínio do capitalismo sobre toda a sociedade. É altamente revelador do papel historicamente traidor desempenhado pelo PT o fato de Lula ter feito tal discurso num momento em que seu governo está sendo encurralado pela mesma elite financeira que promoveu seu retorno ao poder e agora exige que ele implemente medidas de austeridade cada vez mais brutais contra a classe trabalhadora.

Apesar de Lula e o PT insistirem que “a democracia prevaleceu” para entorpecer a consciência popular, as contradições sociais, econômicas e políticas que impulsionaram a tentativa de golpe de 8 de janeiro só estão se agravando.

Em nível internacional, o retorno à Casa Branca de Donald Trump, um aliado declarado de Bolsonaro, exacerba as tensões no sistema político brasileiro. Os golpistas brasileiros se inspiraram abertamente na estratégia política fascista de Trump que levou à invasão do Capitólio dos EUA em 6 de janeiro de 2021.

Para marcar o segundo aniversário da tentativa de golpe fascista em Brasília, Bolsonaro anunciou que foi oficialmente convidado por Trump para a posse presidencial nos EUA, exigindo a liberação de seu passaporte atualmente retido pela Polícia Federal em meio às investigações em andamento sobre o golpe. A ação de Trump é uma provocação deliberada contra o governo brasileiro. Se as autoridades brasileiras recusarem o pedido de Bolsonaro ou cederem à pressão dos EUA, as tensões diplomáticas e políticas internas só aumentarão.

Essa provocação está ligada à brutal agenda imperialista do governo Trump, que visa exercer controle total e implacável sobre a América Latina. Além disso, está em continuidade direta com as tentativas anteriores do bilionário Elon Musk, agora um dos principais membros do gabinete de Trump, de desestabilizar a política brasileira e promover as forças fascistas que reivindicam o legado da tentativa de golpe de 8 de janeiro.

Em resposta às crescentes pressões imperialistas dos EUA e à crise econômica global, a questão candente para a classe dominante brasileira é a preparação da repressão às lutas vindouras da classe trabalhadora. Os apelos nacionalistas do Partido dos Trabalhadores aos militares não só não oferecem resistência ao imperialismo e ao ressurgimento do fascismo, mas colaboram diretamente com seus objetivos.

Se há dois anos os fascistas fracassaram, eles já têm a próxima tentativa em mira, mais bem preparada e sob condições domésticas e internacionais mais favoráveis. Essa ameaça só pode ser enfrentada por uma luta no Brasil, nos Estados Unidos e em todos os países do mundo para desarmar o Estado burguês e transferir o poder político para as mãos da classe trabalhadora.

Em outras palavras, é necessário que os trabalhadores adotem e desenvolvam a estratégia da revolução socialista internacional que animou a Revolução Russa de outubro de 1917 e que hoje é representada pelo Comitê Internacional da Quarta Internacional (CIQI).

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