Publicado originalmente em inglês em 28 de julho de 2025
A declaração da classe dominante de que “a pandemia acabou” foi refutada mais uma vez, com a 11ª onda de infecções massivas por COVID-19 varrendo os EUA e outros países, impulsionada por novas variantes altamente transmissíveis. O SARS-CoV-2 não mostra sinais de estabilização para um estado “endêmico” previsível, falsamente prometido por cientistas reconhecidos e aqueles que minimizam a COVID.
A atual onda é impulsionada por duas variantes dominantes: NB.1.8.1, apelidada de “Nimbus”, e XFG, conhecida como “Stratus”, que juntas representam uma nova fase da evolução viral. A variante NB.1.8.1 agora representa 43% dos casos nos EUA, enquanto a XFG se espalhou rapidamente pelo mundo e constitui a terceira variante mais presente no país.
Segundo o Pandemic Mitigation Collaborative (PMC) da Universidade de Tulane, o painel público mais consistente disponível nos EUA, as novas infecções diárias alcançaram 347 mil até 21 de julho, com previsões sugerindo que esse número quase dobrará no próximo mês.
Extrapolando a partir desses dados, o PMC estima que, no próximo mês, haverá entre 6.700 e 11.200 mortes em excesso devido à COVID-19, enquanto até 3,76 milhões de americanos se juntarão aos dezenas de milhões que já sofrem de COVID longa. Notavelmente, eles estimam que o americano médio agora foi infectado 3,85 vezes, o que significa que ocorreram mais de um bilhão de infecções por COVID-19 nos EUA desde o início da pandemia.
Dados compilados pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) indicam que as mortes oficiais nos EUA continuam elevadas, estando 10,6% acima dos níveis pré-pandêmicos, sublinhando o ônus contínuo de mortalidade causado pela pandemia.
A atual crise representa o ponto culminante de uma guerra bipartidária contra a saúde pública, que não começou com o retorno de Trump ao poder, mas com o desmonte sistemático das proteções contra a COVID-19 pelo governo Biden. A declaração de Biden, em setembro de 2022, de que “a pandemia acabou” preparou o desmonte em massa de todas as medidas de saúde pública sob as ordens do charlatão antivacina Robert F. Kennedy Jr.
Desde que assumiu o controle do Departamento de Saúde e Serviços Humanos (HHS), Kennedy desencadeou um ataque sem precedentes às agências de saúde federais. O número de funcionários no HHS foi reduzido de 82 mil para 62 mil por meio de demissões em massa, privatizações e aposentadorias antecipadas. As 28 divisões da agência estão sendo consolidadas em apenas 15, com o completo fechamento de várias unidades.
Sob o orçamento proposto para o ano fiscal de 2026, os Institutos Nacionais de Saúde (NIH) enfrentam um corte impressionante de US$18 bilhões — uma redução de 40% que devastaria a pesquisa médica. Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) perderiam US$3,6 bilhões, mais da metade de seu orçamento, com programas críticos para prevenção de doenças crônicas, vigilância do HIV e monitoramento da saúde global eliminados completamente.
Essas medidas coincidem com um desmantelamento calculado do próprio método científico. Kennedy demitiu especialistas em vacinas, revogou recomendações baseadas em evidências para vacinas contra a gripe e, na sexta-feira, anunciou planos para demitir todos os 16 membros do Grupo de Trabalho dos Serviços Preventivos dos EUA, que determina quais exames de câncer e serviços de saúde preventiva as seguradoras devem cobrir. O governo cancelou mais de US$11 bilhões em financiamento para departamentos de saúde estaduais e municipais, cortando as conexões entre as agências federais e os trabalhadores da saúde pública na linha de frente.
O momento desse ataque à saúde pública é particularmente sinistro. À medida que novas variantes da COVID-19 elevam as hospitalizações e os casos de COVID longa aumentam, o governo está sistematicamente destruindo a capacidade de monitorar, responder e mitigar todos os surtos de doenças.
Além disso, esses ataques profundos à saúde pública ocorrem à medida que evidências científicas fornecem uma visão mais profunda sobre uma das consequências mais devastadoras a longo prazo da pandemia: danos neurológicos generalizados que serão sofridos pela classe trabalhadora por gerações. Dois estudos marcantes publicados na Nature Communications e na Science Advances fornecem evidências forenses do ataque da COVID-19 à saúde cerebral, expondo a negligência criminosa de todos aqueles que falsamente declararam que a pandemia “acabou”.
O estudo na Nature Communications descobriu que simplesmente viver durante a pandemia — mesmo sem infecção — acelerou o envelhecimento cerebral equivalente a 5,5 meses a mais, com os maiores impactos em adultos mais velhos, homens e pessoas mais pobres. Para aqueles confirmados como infectados com COVID-19, esse envelhecimento cerebral foi ligado a um declínio cognitivo mensurável.
Ainda mais alarmante, a pesquisa na Science Advances demonstrou que o SARS-CoV-2 pode desencadear diretamente a formação de placas de beta amilóide — marcadores da doença de Alzheimer. Usando modelos retinais humanos cultivados em laboratório e tecidos de pacientes com COVID-19 que morreram, os pesquisadores encontraram proteínas virais embutidas dentro dessas placas, sugerindo que a COVID-19 pode iniciar ou acelerar a neurodegeneração por meio de mecanismos biológicos diretos.
O profético aviso da neurocientista Leslie M. Kay, em 2022, sobre “uma onda iminente de demência” parece hoje terrivelmente presciente. A perda persistente de olfato e paladar que afeta milhões de sobreviventes da COVID-19 pode sinalizar os primeiros estágios de doenças neurodegenerativas, à medida que o vírus inflama o bulbo olfativo, uma área crucial para memória e emoção. Criticamente, esse dano ocorre mesmo em casos leves, significando que o custo neurológico se estende muito além daqueles que foram hospitalizados.
Essas políticas equivalem ao que Friedrich Engels chamou de “assassinato social” — a criação sistemática de condições que encurtam a vida da classe trabalhadora. Os US$156 bilhões em economias da Seguridade Social devido às mortes excessivas por COVID-19 não são incidentais, mas sim parte da estratégia. Ao destruir o sistema de saúde pública, o governo Trump está projetando um aumento nas taxas de mortalidade para reduzir as responsabilidades com o Medicare e a Seguridade Social, liberando fundos para militarismo e cortes de impostos para os ricos.
As recentes mortes grotescas e evitáveis no local de trabalho de Ronald Adams Sr. e Brayan Neftali Otoniel Canu Joj sublinham essa realidade. Eles estão entre os mais de 140 mil trabalhadores que morrem a cada ano devido a condições de trabalho perigosas no abatedouro industrial dos EUA, incluindo mais de 5 mil por lesões traumáticas.
Adams, um reparador de máquinas de 63 anos da fábrica de motores Dundee da Stellantis, foi esmagado e morreu em abril quando um pórtico industrial foi ativado repentinamente enquanto ele fazia a manutenção. Brayan, um trabalhador imigrante de 19 anos da Guatemala, foi morto enquanto limpava um moedor de carne industrial na fábrica da Tina’s Burritos em Vernon, no estado da Califórnia.
O ataque em massa à ciência, à saúde pública e à segurança no trabalho serve a múltiplas funções para a elite dominante. Ele elimina evidências inconvenientes de crises de saúde em andamento, desmantela as limitações das instituições que ostensivamente supervisionam a segurança no trabalho, como a Agência de de Segurança e Saúde Ocupacional (OSHA), e normaliza a morte em massa como um custo aceitável para manter os lucros. A demissão de especialistas em saúde pública e o corte de verbas para a vigilância de doenças garantem que futuros surtos serão enfrentados com ignorância, em vez de respostas baseadas na ciência.
Os trabalhadores devem reconhecer que essas políticas interconectadas representam uma guerra de classe lançada de cima. A pandemia expôs a incapacidade fundamental do capitalismo de proteger a vida humana quando ela entra em conflito com a extração de lucros. Agora, à medida que o vírus continua a evoluir e se espalhar, a classe dominante está deliberadamente cegando a população para as consequências, em vez de implementar as medidas de saúde pública necessárias para acabar com a pandemia.
A classe trabalhadora deve se organizar para recuperar a saúde pública e a assistência médica como direitos sociais fundamentais, fundamentados na ciência, na cooperação internacional e no princípio de que nenhuma morte é aceitável quando existem ferramentas para preveni-la. Apenas por meio da transformação socialista da sociedade as vidas humanas serão priorizadas em detrimento do lucro privado e a pandemia poderá acabar de uma vez por todas.