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Perspectivas

A interceptação criminosa da flotilha de ajuda humanitária Sumud por Israel e a luta para parar o genocídio em Gaza

Publicado originalmente em inglês em 4 de outubro de 2025

O bloqueio ilegal da flotilha Sumud pelo regime sionista apoiado pelos imperialistas, impedindo-a de entregar ajuda aos palestinos vítimas de genocídio em Gaza, provocou uma onda de indignação global. Desde que as Forças de Defesa de Israel começaram a interceptar a flotilha de 42 navios na quarta-feira à noite, eclodiram manifestações em vários países europeus e outros, incluindo Espanha, Suíça, Grã-Bretanha, França, Alemanha, Brasil, Argentina e Turquia. Na sexta-feira, mais de dois milhões de trabalhadores na Itália aderiram a uma greve geral de um dia convocada pela Confederação Geral Italiana do Trabalho (CGIL).

Manifestantes contra o genocídio em Gaza são reprimidos pela polícia em Barcelona, na Espanha, em 3 de outubro de 2025, em solidariedade à Flotilha Global Sumud, após os navios terem sido interceptados pela marinha israelense. [AP Photo/Emilio Morenatti]

Israel foi autorizado pelos imperialistas a realizar o que equivalia a pirataria em alto mar. As Forças de Defesa de Israel tomaram o controle das vastas quantidades de ajuda transportadas pelos navios e detiveram mais de 400 ativistas pelo “crime” de ajudarem os palestinos que enfrentam o extermínio. Navios das marinhas italiana e espanhola, que fizeram alarde de acompanhar a frota, mas na realidade procuravam desviá-la de Gaza, foram cuidadosamente retirados ou se retiraram para facilitar o trabalho sujo das Forças de Defesa de Israel. Os ativistas serão deportados para a Europa, enquanto Israel reterá a ajuda humanitária para que a população de Gaza continue a passar fome.

A resposta a este último crime de guerra perpetrado por Israel revela o vasto abismo que existe entre os governantes dos centros imperialistas na América do Norte e na Europa e a classe trabalhadora. A negação sistemática de ajuda a milhões de pessoas por parte de Israel, enquanto o massacre diário de palestinos pelas Forças de Defesa de Israel continua inabalável, causa repulsa na grande maioria da população. Enquanto isso, os imperialistas apoiam a fome em Gaza, continuando a fornecer equipamento militar a Israel e organizando ataques brutais aos protestos espontâneos e greves que eclodiram em apoio à flotilha.

Na Itália, até 100 mil pessoas se manifestaram em Milão como parte de uma greve de um dia. Os portos foram bloqueados em Gênova e Livorno. As autoridades italianas consideraram a greve “ilegal”, com o vice-primeiro-ministro de extrema direita Matteo Salvini afirmando que “aqueles que organizam greves ilegais devem pagar pelos danos”.

A polícia atacou violentamente manifestantes em Barcelona, onde 15 mil pessoas se reuniram na quinta-feira. No mesmo dia, a polícia atacou manifestantes em Bolonha, na Itália, e mais de 100 foram presos em Marselha, na França, depois de tentarem bloquear o acesso a uma empresa de armas que estava enviando equipamentos para Israel. Na sexta-feira, os trabalhadores do porto de Pireu, na Grécia, abandonaram o trabalho e declararam em um comunicado do sindicato que se recusavam a ser “engrenagens de uma máquina de guerra”.

Trabalhadores e jovens estão horrorizados com o enorme crime contra a humanidade que está sendo cometido em Gaza. Nas últimas seis semanas, cerca de 446 mil palestinos foram vítimas da limpeza étnica na cidade de Gaza durante a ofensiva terrestre das Forças de Defesa de Israel, mais de 10 mil por dia, de acordo com o Conselho Norueguês para Refugiados (CNR). “Na cidade de Gaza, centenas de milhares estão cercados por bombardeios, drones e tropas terrestres, sem acesso a ajuda humanitária e obrigados a se deslocar sem passagem segura. A vida foi reduzida a uma luta por água e pão”, disse o chefe do CNR, Jan Egeland, na quinta-feira.

Em todo o enclave, mais de 65.000 mortes foram oficialmente registradas desde o início do ataque de Israel em outubro de 2023, mas as estimativas sugerem que o número real de mortos é muitas vezes superior a esse número.

O crime hediondo do regime sionista, comparável à brutalidade do Holocausto nazista dos judeus europeus, ocorreu com a colaboração ativa das potências imperialistas desde o início. Lideradas pelos EUA e pela Alemanha, elas forneceram enormes quantidades de armamento a Israel. Esse equipamento militar tem sido usado para massacrar homens, mulheres e crianças indiscriminadamente e para impor o bloqueio naval criminoso de Gaza, que vem sendo imposto continuamente desde 2007.

O chamado “plano de paz” do presidente dos EUA, Donald Trump, daria continuidade à cumplicidade das potências imperialistas no genocídio, estabelecendo uma administração de estilo colonial em Gaza. Trump afirmou na sexta-feira que o Hamas tem até domingo para aceitar a revogação total dos direitos dos palestinos ou “o inferno” se abaterá sobre eles.

Ou seja, Trump está se preparando para dar ao criminoso de guerra Netanyahu luz verde para intensificar o genocídio, tudo em nome da “paz”. Trump e os principais consultores do imperialismo americano insistiram abertamente na necessidade de esvaziar Gaza de seus habitantes para que ela possa funcionar como parte fundamental de um corredor econômico – chamado de Corredor Índia-Oriente Médio-Europa – dominado pelos EUA e seus aliados em todo o Oriente Médio. A garantia dessa rota comercial e um acordo entre Israel e os regimes árabes despóticos, nenhum dos quais fez nada para impedir o genocídio, permitiriam ao imperialismo americano alcançar seu objetivo de hegemonia regional incontestável, marginalizando a China, a Rússia e o Irã.

Longe de ser uma aberração, a disposição das potências imperialistas em sancionar o genocídio de Gaza em busca de seus interesses no Oriente Médio corresponde à virada das elites dominantes em todas as grandes potências em direção à guerra mundial e à ditadura. Esses são regimes responsáveis apenas perante a oligarquia financeira, que prioriza a acumulação de vasta riqueza às custas da classe trabalhadora de todos os países e de seus concorrentes nacionais acima de tudo.

À medida que se intensifica uma nova divisão do mundo, semelhante àquelas que produziram as duas guerras mundiais no século passado, os oligarcas financeiros e seus porta-vozes no poder recorrerão a qualquer meio para garantir o acesso a matérias-primas, mercados, mão de obra para exploração e influência geoestratégica — incluindo arriscar a própria sobrevivência da humanidade em uma terceira guerra mundial travada com armas nucleares.

A explosão global de indignação contra o bloqueio da flotilha Sumud, especialmente as greves dos trabalhadores na Itália e na Grécia, aponta para a força social capaz de pôr fim a essa loucura: a classe trabalhadora internacional. Mas a classe trabalhadora deve primeiro estabelecer sua independência política de todas as burocracias socialdemocratas, stalinistas e sindicais que a prenderam à estratégia falida da política de protesto nos últimos dois anos. As potências imperialistas não serão persuadidas a mudar de rumo por apelos morais. Como admitiu o chanceler alemão Friedrich Merz em junho, “Israel está fazendo o trabalho sujo para todos nós”.

Greves de um dia, como a convocada pela CGIL na sexta-feira, são, por si só, insuficientes. O que os trabalhadores precisam são novas organizações sob seu controle — comitês de base — para que possam planejar e dirigir um movimento de massa capaz de deter a máquina da guerra imperialista e do genocídio. Os trabalhadores dos setores de logística, transporte e manufatura, bem como outros em todos os setores econômicos, devem assumir essa luta com as seguintes demandas:

  • A suspensão imediata do envio de todas as armas para Israel.
  • O boicote a todas as atividades comerciais e econômicas com Israel.
  • As empresas americanas, europeias e outras que auxiliam Israel na realização do genocídio devem ser indiciadas e processadas.
  • A prisão de autoridades israelenses por crimes de guerra.
  • O fim da repressão à oposição ao genocídio em Gaza.
  • O acesso imediato e sem obstáculos a Gaza para o fornecimento de ajuda através de todas as passagens terrestres disponíveis e o fim do bloqueio naval que dura há 18 anos.

Essas demandas devem estar ligadas ao movimento mais amplo que já se desenvolve na classe trabalhadora internacionalmente contra a austeridade, a guerra e a destruição de empregos. Os mesmos governos criminosos que canalizam armas mortíferas para o regime sionista estão erguendo formas ditatoriais de governo em seus países para suprimir a oposição popular ao regime oligárquico, ao rearmamento militar e à guerra mundial.

A luta para impedir o genocídio requer necessariamente um movimento comprometido com a destituição da oligarquia financeira do poder e a derrubada do capitalismo, a causa fundamental da barbárie imperialista que encontra sua expressão mais terrível em Gaza. Isso significa estabelecer o poder operário para levar adiante a transformação socialista da sociedade.

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