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Perspectivas

Trump e Xi fecham acordo comercial, mas confronto dos EUA contra a China continua

Publicado originalmente em inglês em 3 de novembro de 2025

A tão aguardada cúpula do presidente dos EUA Donald Trump com seu homólogo chinês Xi Jinping que ocorreu na semana passada na Coreia do Sul resultou em nada mais do que um trégua incerta de um ano em uma guerra econômica que foi enormemente intensificada por Trump desde que voltou ao poder este ano. Embora o encontro possa interromper temporariamente os conflitos comerciais, a guerra econômica liderada pelos EUA e os preparativos militares contra a China irão certamente continuar.

O presidente Donald Trump, à esquerda, e o presidente chinês Xi Jinping posam antes da reunião entre eles na Coreia do Sul, em 30 de outubro de 2025. [AP Photo/Mark Schiefelbein]

Em 2017, as tarifas dos EUA sobre importações da China eram de apenas 3,1%. Durante o primeiro mandato de Trump, ele aumentou as tarifas sobre as importações da China para 20%, uma taxa que o governo do presidente Joe Biden manteve. Durante o segundo mandato de Trump, ele mais do que dobrou essas tarifas novamente, passando para mais de 47% hoje.

Juntamente com tarifas elevadas, a Casa Branca buscou incapacitar as indústrias de alta tecnologia da China restringindo a venda de semicondutores avançados e equipamentos de fabricação de chips para a China devido à “segurança nacional”. A China respondeu à altura, limitando a venda de terras raras necessárias em uma ampla gama de indústrias, incluindo automotiva, eletrônica e de defesa.

No mês passado, na véspera da cúpula, o governo Trump provocativamente escalou mais uma vez – restringindo as vendas de semicondutores não apenas a corporações nominalmente chinesas, mas a qualquer empresa na qual elas possuíssem uma participação majoritária. Segundo uma estimativa, o escopo das proibições foi ampliado de cerca de 1.300 entidades relacionadas à China para mais de 20 mil.

Claramente irritada pelo que considerava uma violação de acordos anteriores, a China ampliou suas restrições à exportação de terras raras. Ela também estabeleceu seus próprios requisitos de licenciamento para a exportação de equipamentos para mineração e processamento de terras raras, proibindo especificamente as exportações com aplicações em áreas sensíveis como operações militares. A China possui praticamente um monopólio global tanto na mineração quanto no processamento desses minerais críticos.

Trump se irritou, ameaçando impor uma tarifa adicional de 100% sobre a China e cancelar a cúpula antes de suspender as tarifas extras. Mas, quando estava prestes a se reunir com Xi, Trump, como um gângster, tuitou que havia ordenado o reinício dos testes nucleares dos EUA, mencionando especificamente a China e a Rússia como responsáveis. A retomada dos testes nucleares, interrompidos por todos os três países na década de 1990, foi não apenas uma tentativa grosseira de forçar concessões de Xi, mas também demonstra que a guerra econômica de Trump está intimamente ligada aos preparativos avançados liderados pelos EUA para um conflito militar com a China, que possui armas nucleares.

O resultado da breve cúpula não foi nada mais do que o que já havia sido acordado anteriormente pelos negociadores dos EUA e da China na Malásia dias antes. China e EUA concordaram em pausar as últimas medidas sobre terras raras e tecnologia avançada por um ano. Os EUA reduziram as tarifas existentes sobre as exportações chinesas em 10%, para 45%, e a China concordou em reiniciar suas compras de soja americana e outros produtos agrícolas.

Os mercados globais e as elites corporativas respiraram coletivamente aliviadas com o fato de que a cúpula evitou uma ruptura imediata entre as duas maiores economias do mundo. Mas ninguém possui a ilusão de que a trégua seja algo além de temporária e pode desmoronar a qualquer momento. Os detalhes do que foi acordado nem estão claros, já que não ocorreu coletiva de imprensa conjunta e um acordo assinado ainda não foi alcançado.

Em seu voo de volta para os EUA, Trump se gabou dos resultados da cúpula como um sucesso esmagador, dando uma nota “12 de 10”. Falando no programa “State of the Union” da CNN ontem, o Secretário do Tesouro Scott Bessent afirmou: “Tudo o que saiu da conferência entre o presidente Trump e o presidente Xi deu aos EUA mais vantagens. … Ele ameaçou adicionar tarifas de 100% a produtos chineses, e conseguimos negociar um adiamento de um ano.”

No entanto, em seu editorial “Lições da guerra comercial de Trump contra a China”, o Wall Street Journal declarou: “o melhor que podemos dizer é que o acordo evitou mais danos econômicos”. A publicação advertiu que “a Guerra Fria entre os EUA e a China irá continuar”.

De maneira semelhante, o Washington Post comentou: “O que saiu deste encontro parece mais uma trégua temporária do que um pacto de paz duradouro.” A publicação advertiu: “O relacionamento mudou. A China demonstrou sua disposição de explorar as dependências dos EUA. Os EUA devem continuar a fazer tudo o que puderem para reduzir essa vantagem, porque o desacoplamento irá continuar.”

Ao longo da turnê da semana passada pela Ásia, Trump e sua comitiva estavam tentando fazer precisamente isso – assinando acordos com Malásia, Japão e Coreia do Sul sobre o fornecimento de terras raras. Em uma reunião com o primeiro-ministro australiano Anthony Albanese no mês passado, Trump alcançou um acordo para a mineração e o processamento de minerais críticos, incluindo terras raras, na Austrália.

Apesar das alegações de Bessent ao Financial Times de que os EUA encerrariam o monopólio da China em menos de dois anos, a indústria de terras raras da China, desenvolvida ao longo de anos, não está prestes a ser rapidamente substituída. A Austrália, por exemplo, envia grande parte de suas terras raras para a China para processamento.

A resposta do Partido Democrata foi criticar Trump por não ser agressivo o suficiente e ceder a Xi. O líder da minoria no Senado, Chuck Schumer, escreveu no X/Twitter: “Não acredite na conversa fiada dele. Trump se acovardou em relação à China.” O jornalista John Harwood, resumindo os críticos alinhados ao Partido Democrata, declarou que “Xi limpou o chão com Trump”.

O New York Times, alinhado ao Partido Democrata, acusou Trump de comprometer a segurança nacional americana ao recuar na extensão da proibição das exportações de tecnologia avançada dos EUA para entidades com participação majoritária chinesa. A jornalista Ana Swanson declarou que “o movimento parecia ser uma das primeiras concessões que os Estados Unidos haviam feito nos controles de tecnologia relacionados à segurança nacional como parte de uma negociação comercial”.

A resposta dos democratas demonstra que todo o establishment político dos EUA, independentemente de suas diferenças táticas, considera a China como a principal ameaça à supremacia econômica e militar do imperialismo americano. Por mais de uma década, começando com o “pivô para a Ásia” do governo Obama, Washington tem se envolvido em uma ofensiva diplomática e econômica crescente e no reforço militar em toda a região do Indo-Pacífico, a fim de debilitar e, em última instância, subordinar a China aos interesses econômicos e estratégicos dos EUA.

Em seu primeiro mandato, Trump promoveu a necessidade de s EUA se “desacoplarem” da China como parte fundamental dos preparativos para a guerra. Longe de aliviar as tensões com a China, o acordo temporário firmado na Coreia do Sul entre Trump e Xi está levando à conclusão, na Casa Branca e em Washington de forma mais ampla, de que se a guerra econômica não conseguir intimidar Pequim, meios militares devem ser empregados – e dada a rapidez da ascensão da China, mais cedo do que tarde.

Não é uma nova “Guerra Fria” que está sendo preparada, mas sim uma extensão dramática das guerras já em andamento na Europa e no Oriente Médio para um conflito militar com a China. A ameaça nuclear de Trump imediatamente antes da reunião com Xi é o aviso mais claro do que está sendo preparado, já que o imperialismo dos EUA enfrenta não apenas rivais geopolíticos, mas também uma enorme crise econômica e social interna.

A única força social capaz de interromper a derrocada a uma guerra global e uma catástrofe nuclear é a classe trabalhadora internacional. O Comitê Internacional da Quarta Internacional convoca a construção de um movimento unificado e contra a guerra de trabalhadores nos EUA, na China e em todo o mundo, baseado em um programa socialista revolucionário para abolir o capitalismo e sua divisão reacionária do mundo em Estados nacionais rivais.

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