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Oxfam: Riqueza de 10 bilionários dos EUA aumentou seis vezes desde 2020

Publicado originalmente em inglês em 4 de novembro de 2025

Em 3 de novembro, a organização Oxfam publicou um relatório sobre o crescimento da desigualdade social nos Estados Unidos, intitulado “Unequal: The Rise of a New American Oligarchy” [“Desigual: A ascensão de uma nova oligarquia americana”].

O relatório observa que “o ano passado foi permanentemente moldado pela riqueza e poder concentrados”. Ele cita dados mostrando que, apenas nos últimos 12 meses, os 10 bilionários mais ricos dos EUA ficaram aproximadamente US$700 bilhões mais ricos. Ao longo desse período, sua riqueza cresceu impressionantes 40%, passando de US$1,79 trilhão para US$2,5 trilhões.

Aumento da riqueza, em bilhões de dólares, dos 10 mais ricos bilionários dos EUA do ano passado (coluna azul) para este ano (coluna vermelha).

A publicação do relatório da Oxfam ocorreu apenas um dia após o governo do presidente Donald Trump cortar os benefícios de assistência alimentar para dezenas de milhões de lares americanos. Isso aconteceu enquanto Trump avançava na construção de um gigantesco salão de festas na Casa Branca, e seus amigos bilionários promoviam uma festa temática inspirada em “O Grande Gatsby” em seu resort Mar-a-Lago no final de semana.

O domínio dos Estados Unidos por uma oligarquia parasitária, cuja sede do poder está na Casa Branca, está à vista de todos.

Mas o relatório da Oxfam deixa claro que, por mais violenta que seja a redistribuição de riqueza de baixo para cima realizada sob Trump, ela é o produto de décadas de austeridade e políticas a favor das corporações, adotadas pelos partidos Democrata e Republicano. Conforme declara o relatório, “A história não começa em 2025”.

Retornando aos 10 homens mais ricos dos EUA, o relatório da Oxfam observa: “Desde 2020, sua riqueza ajustada pela inflação aumentou 526%”. Em outras palavras, de março de 2020 até o presente, a riqueza desses 10 indivíduos aumentou em seis vezes.

Um exemplo é Elon Musk, cuja riqueza era de US$33 bilhões em março de 2020, mas desde então disparou para US$469 bilhões, um aumento de 14 vezes.

Larry Ellison, número dois da lista, viu sua riqueza aumentar de US$54 bilhões em março de 2020 para US$323 bilhões, um aumento de seis vezes. A riqueza de Jeff Bezos, número três da lista, aumentou de US$126 bilhões em março de 2020 para US$265 bilhões hoje.

Proporção da riqueza nacional dos EUA pertencente ao 0,1% mais rico (linha superior, em azul claro) e pelos 50% mais pobres (linha inferior, em azul escuro) de 1989 até 2025.

O aumento da riqueza é impulsionado por um crescimento especulativo implacável dos valores das ações em Wall Street. O relatório da Oxfam observou que “em 2025, a proporção de bens pertencentes ao 0,1% mais rico atingiu o seu nível mais alto desde que o Federal Reserve [o banco central americano] começou a publicar dados em 1989 (12,6%), assim como a sua parcela no mercado de ações (24%)”.

Em 1989, 0,1% dos lares mais ricos controlavam 8,6% da riqueza, em comparação com 13,9% atualmente. Em contrapartida, a parcela da riqueza controlada pelos 50% mais pobres da sociedade americana caiu de 3,5% em 1989 para 2,5% atualmente.

Em outras palavras, o 0,1% mais rico dos lares dos EUA, que representa pouco mais de 100 mil pessoas, controla seis vezes mais riqueza do que os 64 milhões de lares mais pobres da sociedade.

De fato, citando dados de Thomas Piketty e Emmanuel Saez, o relatório da Oxfam observa que “Os 0,0001% mais ricos controlam uma participação maior da riqueza do que na Era Dourada [os últimos 30 anos do século XIX], uma época da história dos EUA marcada por extrema desigualdade.”

O relatório acrescenta: “O 1% mais ricos possui metade do mercado de ações (49,9%), enquanto a metade inferior dos EUA possui apenas 1,1% do mercado de ações.”

O relatório alerta corretamente que o governo Trump está implementando políticas que irão expandir massivamente a desigualdade social. Ele adverte que “o governo Trump – em grande parte com o apoio dos republicanos no Congresso – agiu com velocidade e em escala estonteantes para realizar um ataque incessante às famílias da classe trabalhadora e usar o poder do cargo para enriquecer os ricos e bem conectados.”

A Oxfam observa que “A recentemente aprovada One Big Beautiful Bill Act [lei que corta impostos dos mais ricos, enquanto corta programas sociais essenciais para os trabalhadores e pobres nos EUA, como Medicaid, Medicare e assistência alimentar] reduzirá a cobrança de impostos do 0,1% com maiores rendimentos em uma estimativa de US$311 mil até 2027, enquanto as famílias de renda mais baixa – aquelas que ganham menos de US$15 mil anualmente – devem enfrentar aumentos de impostos.”

Mas, como deixa claro o relatório da Oxfam, o governo Trump marca uma aceleração, em um ritmo sem precedentes, de processos que já estavam em andamento há décadas. “Os formuladores de políticas têm escolhido a desigualdade, e essas escolhas têm tido apoio bipartidário”, afirmou a autora do estudo, Rebecca Riddell, ao Guardian. “As reformas políticas nos últimos 40 anos, desde cortes de impostos e da rede de proteção social até questões trabalhistas e além, realmente tiveram o apoio de ambos os partidos.”

Essa avaliação é verdadeira. Mas é aqui que o relatório se enrosca em contradições. A autora do estudo aponta corretamente que a explosão da desigualdade social ocorreu ao longo de décadas, sob governos democratas e republicanos. Mas o relatório prossegue fazendo a seguinte afirmação:

Os ganhos feitos durante o governo Biden – como reduções na pobreza, salários melhorados para trabalhadores de baixa renda, e uma forte ação antitruste que colocou dinheiro de volta nos bolsos das famílias – demonstraram o verdadeiro potencial de organizar para assegurar mudanças políticas que melhorem a vida das pessoas.

Durante o governo Biden, a riqueza dos 10 mais ricos bilionários dos EUA dobrou de janeiro de 2021 (coluna azul) para janeiro de 2025 (coluna vermelha). Os valores são em bilhões de dólares.

Isso é totalmente contraditório com as próprias descobertas do relatório. Sob o governo Biden, a proporção da riqueza controlada pela oligarquia financeira disparou a um nível que só foi superado pelo governo Trump. A riqueza combinada dos 10 indivíduos mais ricos dos EUA dobrou, passando de US$976 bilhões em janeiro de 2021 para US$1.991 bilhão em janeiro de 2025. Durante esse período, a proporção da renda nacional associada ao trabalho [isto é, destinada ao pagamento dos trabalhadores, incluindo salários, benefícios e remunerações diversas] caiu para o nível mais baixo de todos os tempos.

Proporção da renda nacional associada ao trabalho nos EUA.

Sob Biden, a taxa de insegurança alimentar para crianças americanas aumentou de 13% para 19%. No último ano de seu governo, o Departamento de Habitação e Desenvolvimento Urbano dos EUA afirmou em seu relatório anual: “O número de pessoas enfrentando a falta de moradia em uma única noite em 2024 foi o mais alto já registrado”.

Em outras palavras, o governo Biden foi um desastre para a classe trabalhadora e uma bonança para a oligarquia financeira.

Porcentagem de crianças americanas em famílias em insegurança alimentar.

O prefácio do relatório é escrito pela senadora democrata Elizabeth Warren, que declara que “uma economia que funciona muito bem para os mais ricos e deixa todos os outros lutando para sobreviver … aconteceu por meio de escolhas políticas deliberadas.”

No entanto, ela não explica como uma vasta parcela do aumento da desigualdade social documentada no relatório da Oxfam ocorreu sob um governo que ela apoiou e cujas políticas ela defendeu repetidamente, e sem exceções.

No texto principal do relatório da Oxfam, uma palavra é deixada de lado: capitalismo. A sua estrutura essencial consiste em argumentar que o crescimento da desigualdade social é meramente uma escolha política e que outra escolha poderia ser facilmente adotada dentro da atual estrutura social.

Na realidade, no entanto, o crescimento persistente da desigualdade social, tanto sob democratas como republicanos, é uma característica fundamental do sistema capitalista. Como Karl Marx explicou há 150 anos: “A acumulação de riqueza num polo é... ao mesmo tempo acumulação de miséria, sofrimento no trabalho, escravidão, ignorância, brutalidade, degradação mental, no polo oposto, ou seja, no lado da classe que produz seu próprio produto na forma de capital”.

O governo Trump representa, em sua manifestação mais elevada e grotesca, uma extensão das características essenciais do sistema capitalista descritas por Karl Marx há mais de 150 anos. É um governo de, por e para a oligarquia capitalista, governando diretamente em nome dos bilionários e suas corporações.

Esse é o conteúdo de classe da destruição dos direitos democráticos. A conspiração crescente de Trump por uma ditadura flui das necessidades de uma classe dominante que pode manter sua riqueza e poder apenas por meio da violência, repressão e destruição dos direitos democráticos. A cumplicidade e covardia do Partido Democrata são explicadas pelo fato de que ele representa outra fração da mesma oligarquia capitalista.

Mas o clima social nos Estados Unidos está mudando. No mês passado, o ataque do governo Trump aos direitos democráticos e às políticas de austeridade levou a protestos de milhões de pessoas nas manifestações “Sem Reis”, que estão entre as maiores da história americana. Uma recente pesquisa da Axios constatou que 67% dos jovens nos EUA agora veem o termo “socialismo” de forma positiva ou neutra, comparado a apenas 40% para “capitalismo.”

Há uma crescente oposição entre amplas seções da população, incluindo trabalhadores e jovens, à desigualdade social e à ditadura da oligarquia financeira.

O Partido Socialista pela Igualdade insiste que as fortunas obscenas da elite financeira devem ser expropriadas. A riqueza dos oligarcas é inseparável de seu controle sobre as gigantescas corporações, bancos e fundos de investimento que dominam todos os aspectos da vida econômica e política. Essas instituições devem ser transformadas em serviços públicos, controlados democraticamente pela classe trabalhadora e reorganizadas para atender às necessidades humanas, e não ao lucro privado.

Tal transformação não pode ser alcançada através de apelos a qualquer um dos partidos de Wall Street. É necessário construir um movimento de massas da classe trabalhadora, organizado em comitês de base, unificado internacionalmente através da Aliança Operária Internacional de Comitês de Base (AOI-CB). A luta contra a desigualdade e a ditadura é, em essência, uma luta contra o capitalismo. Para acabar com a exploração, a pobreza e a guerra, a classe trabalhadora deve tomar o poder e reconstruir a vida econômica sobre bases socialistas.

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