Publicado originalmente em inglês em 8 de setembro de 2025
Em 6 de setembro, o presidente dos EUA, Donald Trump, declarou guerra à terceira maior cidade do país, Chicago. Sua conta no Truth Social postou uma imagem gráfica elaborada mostrando Trump dirigindo uma onda de helicópteros de ataque contra o horizonte da cidade, ao lado da legenda “Chipocalypse Now”.
Tanto a imagem quanto o legenda e a frase que a acompanhava, “Eu amo o cheiro de deportações pela manhã”, referem-se ao filme da Guerra do Vietnã de 1979 dirigido por Francis Ford Coppola, Apocalypse Now. A imagem, aparentemente elaborada com a ajuda de IA sob a orientação de Trump, coloca Trump no papel do oficial enlouquecido e criminoso de guerra interpretado por Robert Duvall, que adorava “o cheiro de napalm pela manhã” enquanto o imperialismo americano assassinava a população vietnamita.
Na parte inferior da imagem está escrito: “Chicago prestes a descobrir por que é chamado de Departamento de GUERRA”. Trump estava se gabando de sua ordem executiva, assinada no dia 5, que renomeou o Departamento de Defesa, a maior instituição militar do planeta, para Departamento de Guerra.
Um nome mais apropriado seria Departamento de Guerra Civil, uma vez que o governo Trump está visando a população americana com a violência do aparato militar-policial. Trump e seus assessores deixaram claro que os desdobramentos em Washington e Chicago serão seguidos por dezenas de outras cidades dos EUA.
Essas ações são sem precedentes e não possuem fundamento legal ou constitucional. Trump declarou que seria um ditador “desde o primeiro dia”, e agora está provando que isso não era um exagero. Ele está se deliciando com a violência e a ilegalidade. A questão não é se a ditadura é um perigo – ela já está, passo a passo, sendo erguida aos olhos do mundo.
O ataque aos imigrantes é uma ponta de lança para um ataque mais amplo a toda a classe trabalhadora. Na semana passada, quase 500 trabalhadores foram capturados em uma única operação no canteiro de obras da Hyundai na Geórgia, com mais de 300 provenientes da Coreia do Sul, a maior operação de imigração na história dos EUA. Isso foi seguido pela prisão de imigrantes e cidadãos americanos que trabalhavam em uma fábrica de barras de cereais em Cato, Nova York, no domingo.
O “czar da fronteira” de Trump, Tom Homan, anunciou no domingo que Chicago e outras “cidades santuário” devem esperar operações em massa apoiadas por tropas da Guarda Nacional. Enquanto isso, tropas estão sendo mobilizadas no estado de Louisiana para serem enviadas a Nova Orleans.
Trump está agindo em nome dos bilionários e dos chefes corporativos cuja corrupção, ganância e hostilidade aos direitos democráticos ele personifica. O caráter de classe desse ataque foi sublinhado na semana passada quando Trump se reuniu em Washington com um grupo de bilionários da tecnologia e especuladores, incluindo Mark Zuckerberg, do Facebook, Sergey Brin, do Google, Bill Gates, da Microsoft, e Sam Altman, da OpenAI. A oligarquia está se alinhando abertamente com a ditadura de Trump, reconhecendo que sua riqueza e poder dependem da destruição dos direitos democráticos e da repressão à resistência da classe trabalhadora.
Agindo em nome dessa oligarquia, o governo Trump está engajado em um ataque total à classe trabalhadora: eliminando medidas de saúde pública e vacinação para reduzir a expectativa de vida; implementando e planejando um enorme ataque ao Medicare, Medicaid e à previdência social; e intensificando a exploração. Trump e os oligarcas estão plenamente cientes de que essas políticas irão provocar uma oposição explosiva. Milhares já foram às ruas em Washington e Chicago para se opor à ocupação militar de Trump na capital e à sua ameaça de enviar tropas a grandes cidades.
Existe uma contradição assombrosa entre a escala do ataque de Trump aos direitos democráticos e a resposta da mídia, do Partido Democrata e da burocracia sindical.
A mídia corporativa está fazendo o máximo para minimizar o perigo da ditadura. O New York Times, o Washington Post e o Wall Street Journal noticiaram a ameaça postada por Trump contra Chicago em seus sites no sábado, mas não em suas edições impressas, e o assunto foi ignorado por vários programas de entrevistas na televisão no domingo. O “Meet the Press” não fez menção a isso, e a CNN permitiu que Homan, falando pelo presidente, afirmasse que as palavras de Trump – em uma postagem elaborada e paga pela Casa Branca – haviam sido tiradas de contexto!
No estado de Illinois, o governador J.B. Pritzker e a senadora Tammy Duckworth descreveram as ações de Trump como “declarar guerra a uma cidade americana” e “algo anormal”, enquanto o prefeito de Chicago, Brandon Johnson, alertou que Trump queria “ocupar nossa cidade e violar nossa Constituição”. Mas nenhum deles propôs qualquer ação além de entrar com ações judiciais que se arrastarão por anos em tribunais dominados pelos indicados de Trump.
A liderança democrata do Congresso disse pouco e não fez nada em resposta à repressão militar-policial crescente de Trump. O senador do estado de Vermont, Bernie Sanders, em meio à sua série de comícios “lutando contra a oligarquia”, está fazendo tudo o que pode para fingir que isso não está acontecendo. Não existe chamado pelo impeachment, nenhum esforço para mobilizar manifestações em massa, nenhuma luta para impedir o golpe de Trump. Isso ocorre porque os democratas estão aterrorizados de que um chamado pela oposição em massa ao governo Trump possa sair do seu controle e representar uma ameaça a toda a classe dominante.
A burocracia da AFL-CIO, UAW, Teamsters e outros sindicatos está ainda mais aterrorizada com as consequências de um movimento de classe trabalhadora em massa contra Trump. Não falou nada sobre a usurpação de poderes ditatoriais por Trump, assim como não fez nada para defender os centenas de trabalhadores imigrantes apreendidos na Geórgia. O aparato é um instrumento das corporações e do Estado, funcionando como uma força policial entre os trabalhadores para suprimir a oposição no local de trabalho.
Mas as questões que agora confrontam os trabalhadores não podem ser ignoradas. O Partido Socialista pela Igualdade (SEP, na sigla em inglês) nos EUA insiste que apenas a classe trabalhadora, organizada independentemente da burocracia sindical e dos democratas, pode impedir o estabelecimento de uma ditadura.
Como o World Socialist Web Site escreveu em 20 de agosto:
Na ausência de oposição dentro da estrutura política existente, o centro de resistência a Trump deve se deslocar para a classe trabalhadora. As questões políticas básicas que devem ser respondidas são: O que a classe trabalhadora deve fazer, com o apoio de estudantes e todas as forças progressistas da sociedade, para parar o estabelecimento de uma ditadura nos Estados Unidos? Quais são as novas formas de ação organizada em massa, incluindo uma greve geral, necessárias para defender os direitos democráticos da classe trabalhadora? Quais mudanças na estrutura econômica e social do país são necessárias para quebrar o poder da oligarquia financeira-corporativa?
Essas questões devem se tornar objeto de discussão em cada local de trabalho, bairro e escola. Os trabalhadores devem se organizar para exigir e lutar pelo fim da ditadura e da repressão, unindo trabalhadores nativos e imigrantes contra as operações do ICE e as apreensões em massa. Devem se opor ao desperdício de bilhões de dólares na guerra imperialista enquanto as necessidades sociais ficam sem atendimento, resistir aos ataques à ciência e à saúde pública, e insistir em locais de trabalho seguros, onde vidas sejam valorizadas acima do lucro.
O Partido Socialista pela Igualdade convoca a classe trabalhadora a liderar a organização de oposição em massa ao golpe de Trump. Isso significa construir comitês de base em cada local de trabalho, escola e bairro para coordenar greves, manifestações e resistência coletiva. Esses comitês devem preparar o terreno para uma greve geral contra a ditadura e a guerra.
Se houver de fato uma oposição real, ela deve vir da mobilização independente dos próprios trabalhadores. Guiado por uma perspectiva socialista, esse movimento deve ter como objetivo tirar o poder político das mãos da oligarquia financeira e reorganizar a sociedade com base na igualdade e nas necessidades humanas, não no lucro privado. Só assim a desigualdade, a repressão e a ditadura podem acabar.