Publicado originalmente em inglês em 30 de setembro de 2025
Discursando diante de centenas de generais e almirantes reunidos em uma base do Corpo de Fuzileiros Navais nos arredores de Washington, o presidente Donald Trump e o “secretário da Guerra” Pete Hegseth apresentaram um plano para estabelecer uma ditadura presidencial nos Estados Unidos. Trump disse aos altos escalões militares que eles teriam um papel central na subjugação de seus oponentes políticos dentro dos Estados Unidos e que qualquer oficial que não estivesse disposto a fazê-lo deveria se demitir imediatamente.
O espetáculo em Quantico foi uma tentativa de construir uma versão americana da Waffen SS de Hitler. E se o vice-chefe de gabinete da Casa Branca, Stephen Miller, está desempenhando o papel de Joseph Goebbels de Trump, então Hegseth está assumindo a posição de SS-Obergruppenführer Reinhard Heydrich, o principal assessor militar de Hitler.
O foco do discurso de Trump foi justificar o uso generalizado da força militar contra cidades americanas. “Vamos endireitá-los um por um”, disse Trump, “e esse será um papel importante para algumas das pessoas nesta sala”. Ele acrescentou: “Isso também é uma guerra. É uma guerra interna”.
Trump enfatizou esse ponto repetidamente. No mês passado, ele disse que “assinou uma ordem executiva para fornecer treinamento a uma força de reação rápida que pode ajudar a reprimir distúrbios civis. Isso será muito importante para as pessoas nesta sala, porque é o inimigo interno, e temos que lidar com ele antes que fique fora de controle”.
Trump já começou a implementar essa política com o envio da Guarda Nacional e dos fuzileiros navais para Los Angeles, seguido pela ocupação de Washington, a capital do país, por agentes federais fortemente armados e por soldados da Guarda Nacional de múltiplos estados controlados pelos republicanos. Em 27 e 28 de setembro, o presidente dos EUA ordenou que as forças federais fossem para Portland, Oregon. Tropas da Guarda Nacional devem ser enviadas para Memphis, no estado do Tennessee, esta semana, e Trump disse ao seu público militar que Chicago seria a próxima, mencionando também São Francisco e Nova York como alvos futuros.
Em uma observação particularmente assustadora, Trump disse, referindo-se a Hegseth: “Eu disse a Pete que deveríamos usar algumas dessas cidades como campos de treinamento para nossos militares — a Guarda Nacional, mas [também] militares”. Em que consistirá esse “treinamento”? No extermínio sistemático dos protestos populares e da resistência às políticas do governo Trump.
Ao enfatizar o papel das Forças Armadas, além da Guarda Nacional, Trump deixou claro que estava falando sobre o envio generalizado de tropas militares da ativa para as cidades americanas, uma violação aberta da Lei Posse Comitatus.
Trump deve ser levado à sério. Sua invocação do “inimigo interno” é uma declaração de guerra ao povo americano, acima de tudo à classe trabalhadora. Como o Partido Socialista pela Igualdade escreveu em uma declaração publicada em 19 de setembro, “é necessário deixar de lado todas as esperanças ilusórias de que o que está acontecendo seja algo diferente de uma tentativa de impor uma ditadura presidencial baseada nos militares, na polícia, em forças paramilitares e em gangues fascistas”.
O momento da reunião de Trump com os generais, coincidindo com a iminente paralisação do governo, não é acidental. Trump pretende usar a paralisação como um mecanismo para reestruturar massivamente o Estado americano e preparar um ataque sem precedentes à classe trabalhadora. Além disso, se as eleições de meio de mandato forem realizadas no próximo ano, elas irão ocorrer em condições de repressão e militarização, no que será, na prática, um país ocupado.
Em suas observações, que precederam as de Trump, Hegseth emitiu uma série de diretrizes destinadas a subordinar completamente as forças armadas ao controle pessoal de Trump e ao programa fascista do governo. Algumas diretrizes visavam dar às forças armadas americanas carta branca para massacrar civis e cometer outros crimes de guerra sem medo de repercussões, muito menos de processos criminais. Hegseth também propôs tornar efetivamente impossível para mulheres e soldados pertencentes a minorias fazerem denúncias de abuso sexual ou racial contra seus comandantes.
Um elemento inconfundível de racismo permeia os discursos de Trump e Hegseth. Hegseth criticou o “lixo woke”, declarando: “Estamos fartos dessa merda”. Várias diretrizes de Hegseth eram destinadas a expulsar soldados pertencentes a minorias, como a proibição de barbas, que afetará desproporcionalmente os soldados negros e aqueles de ascendência do Oriente Médio.
Em suas referências às grandes cidades, que votam fortemente nos democratas e têm grandes populações afro-americanas e hispânicas, Trump denunciou o que ele chamou de “carreiras” — ou seja, “criminosos de carreira”. Ele acrescentou: “Você poderia mandá-los para as melhores escolas, nas quais eles não conseguiriam entrar de qualquer maneira mentalmente... Eles são, eles são criminosos de carreira. Então, eu não sei, talvez eles tenham nascido assim. Algumas pessoas não gostam que eu diga isso, mas talvez tenham nascido assim.”
Em determinado momento, ao ponderar a possibilidade de uma guerra nuclear, Trump disse: “Eu chamo isso de palavrão com N. Existem dois palavrões com N, e você não pode usar nenhum deles” [Trump estava se referindo ao termo racista “nigger”]. Ele acrescentou, em linguagem pouco literária: “Se for preciso usar, temos mais do que qualquer outro. Temos melhores. Temos mais novas.”
Um aspecto sem precedentes do discurso de Trump foi seu partidarismo aberto. Trump não se dirigiu aos generais e almirantes reunidos como comandante-chefe das Forças Armadas dos Estados Unidos, mas como líder de um partido político que busca sua lealdade na condução de uma guerra civil contra seus oponentes domésticos.
Ele fez repetidas referências às suas próprias vitórias eleitorais, contrastando as regiões “vermelhas” onde ganhou o voto popular com os distritos “azuis” controlados pelo Partido Democrata, reduzidos, em suas palavras, a “faixas e pontos” dispersos (na verdade, as grandes concentrações urbanas onde vive a maioria do povo americano).
Ele deixou claro que o objetivo da mobilização militar era eliminar esses enclaves de oposição política, começando pelas principais cidades controladas pelos democratas. Nenhum presidente americano jamais se dirigiu às forças armadas dessa maneira — como líder político de uma facção, convocando os generais para ajudá-lo a garantir sua vitória sobre outra.
Isso, combinado com as denúncias de Miller e outros dos democratas como “extremistas domésticos”, torna ainda mais extraordinário o silêncio contínuo do Partido Democrata. Longe de alertar a população ou mobilizar a oposição, os democratas praticamente não disseram nada sobre as ameaças de Trump de enviar as forças armadas às cidades americanas.
Em vez disso, o partido continua obcecado em levar adiante a guerra dos EUA e da OTAN contra a Rússia e preparar o confronto com a China, enquanto promove a ilusão de que as “barreiras de proteção” da democracia americana — os tribunais, as próprias forças armadas, as agências de inteligência — irão, de alguma forma, conter Trump. Líderes do Congresso como Chuck Schumer e Hakeem Jeffries ignoraram as ameaças de Trump.
A suposta “ala esquerda” do partido, Alexandria Ocasio-Cortez e Bernie Sanders, também se mantiveram em silêncio. Nenhum dos dois disse nada sobre a reunião dos generais. A revista Jacobin, principal publicação associada aos Socialistas Democráticos da América (DSA), também não escreveu nada, em linha com sua política editorial de dizer o mínimo possível sobre o ataque sem precedentes aos direitos democráticos nos EUA.
Os democratas temem que qualquer exposição séria dos planos de Trump incentive o movimento de massa de trabalhadores e jovens que já está surgindo em oposição à guerra, à austeridade e à desigualdade. Dessa forma, o Partido Democrata é cúmplice, desempenhando seu papel designado na consolidação do regime autoritário.
Os eventos do mês passado seguem uma lógica de classe definida. A reunião com oligarcas do setor de tecnologia no início deste mês, as denúncias incessantes da “esquerda radical”, o envio de tropas da Guarda Nacional para cidades americanas, o frenesi fascista provocado pelo assassinato de Charlie Kirk, a ameaça de ocupação militar de Portland, o discurso de Trump diante dos altos escalões militares e as demissões em massa programadas para a paralisação do governo fazem parte de um plano coordenado.
Cada dia que passa demonstra não apenas a trajetória fascista de Trump, mas também a impotência do Partido Democrata e a ausência de qualquer base eleitoral dentro da classe dominante para os direitos democráticos básicos. A luta contra a ditadura não pode ser travada dentro da estrutura das instituições existentes.
Em sua declaração de 19 de setembro, “A conspiração fascista de Trump e como combatê-la: Uma estratégia socialista”, o Partido Socialista pela Igualdade elaborou a organização, o programa e a estratégia para um movimento contra a ditadura. Ele convocou a construção de “uma nova forma de organização que possa unificar a classe trabalhadora e mobilizar seu vasto poder industrial e econômico contra o regime de Trump”.
Essa nova forma de organização proposta pelo Partido Socialista pela Igualdade consiste em comitês de base. Eles devem ser criados em todas as fábricas, locais de trabalho, escolas e bairros para organizar a resistência à ditadura de Trump. Esses comitês devem se tornar centros de resistência, unindo todos os setores da classe trabalhadora (na indústria, logística, transporte, restaurantes e fast food, serviços sociais, defesa jurídica, educação, artes e cultura, entretenimento, medicina, saúde, ciências, tecnologia da informação, programação e outras profissões altamente especializadas) e jovens estudantes contra o governo fascista de Trump, a cumplicidade dos democratas e o ataque mais amplo aos direitos democráticos e aos padrões de vida.
“A oligarquia capitalista declarou guerra à classe trabalhadora”, escreveu o Partido Socialista pela Igualdade. “A resposta necessária é a declaração de guerra da classe trabalhadora ao capitalismo, que deve resultar na reorganização socialista da sociedade”. A luta por este programa depende da construção de uma liderança socialista. Convocamos todos os trabalhadores e jovens que concordam com esta perspectiva a se filiarem ao Partido Socialista pela Igualdade.