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Trump autoriza operações da CIA para mudança de regime na Venezuela

Publicado originalmente em inglês em 16 de outubro de 2025

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, confirmou na quarta-feira que autorizou a Agência Central de Inteligência (CIA) a realizar operações secretas e letais na Venezuela com o objetivo de derrubar o governo do presidente Nicolás Maduro. O World Socialist Web Site denuncia esses planos criminosos para a tomada imperialista da Venezuela.

Fuzileiros navais dos EUA no que o Pentágono descreveu como “operações direcionadas para a guerra” no sul do Caribe. [Photo: @Southcom]

Quando repórteres o questionaram na Casa Branca sobre uma reportagem do New York Times citando vários funcionários dos EUA sobre a autorização, Trump não hesitou em reconhecer a ordem. A admissão é uma escalada extraordinária da agressão imperialista dos EUA contra a Venezuela e além.

Durante a coletiva de imprensa, Trump também se gabou de que o Pentágono havia realizado outro ataque mortal em 14 de outubro contra uma lancha no sul do Caribe, matando seis pessoas. Isso eleva para pelo menos 27 o número de civis mortos em ações militares dos EUA contra pequenas embarcações acusadas – sem qualquer evidência – de tráfico de drogas. 

A mídia de Trinidad e Tobago informou que este último barco transportava vários passageiros do país, com parentes de uma das vítimas declarando que ele era apenas um jovem trabalhador migrante voltando para casa. 

Paralelamente a essas execuções extrajudiciais em massa, bombardeiros estratégicos B-52 dos EUA foram detectados em 15 de outubro próximo à costa venezuelana, realizando manobras tão intensas que um voo de deportados do Texas para a Venezuela foi desviado para Porto Rico. A mobilização desses bombardeiros com capacidade de carregar ogivas nucleares segue a ameaça de Trump, na semana passada, de desencadear “fogo e fúria” contra a Venezuela, bem como a incursão, em 2 de outubro, de cinco caças F-35 dos EUA no espaço aéreo venezuelano. 

Atualmente, as forças americanas no sul do Caribe contam com aproximadamente 10 mil soldados e marinheiros, estabelecendo uma capacidade significativa para operações de grande porte. Em 15 de outubro, Trump voltou a ameaçar estender os ataques ao território venezuelano.

A longa história de intervenções secretas de Washington — golpes, assassinatos, suborno da mídia, manipulação de eleições e corrupção de sindicatos — agora se desenrola sem sequer a alegação de buscar uma negação plausível.

Quando questionado diretamente se a CIA tinha autoridade para “derrubar Maduro”, Trump disse: “Não seria uma pergunta ridícula para eu responder? Mas acho que a Venezuela está sentindo pressão”. Esse foi um claro reconhecimento de que o objetivo das operações da CIA é precisamente a mudança de regime. Washington ofereceu uma recompensa recorde de US$ 50 milhões pela cabeça de Maduro, acusando-o de liderar o chamado Cartel dos Sóis, uma organização fictícia.

Os bombardeios, o envio de tropas e as ameaças não são meras demonstrações de força, mas uma declaração aberta de uma intervenção imperialista iminente que está sendo preparada com base em pretextos totalmente falsos.

A alegação de que a Venezuela inunda os EUA com drogas é claramente falsa. Inúmeros relatórios de agências antidrogas, tanto nos EUA quanto internacionalmente, confirmaram que muito pouca cocaína e nenhum fentanil — a principal causa de mortes por overdose nos EUA — passam pela Venezuela.

Na realidade, a própria CIA está entre as organizações responsáveis pelo tráfico de drogas e pela violência associada a ele. Em 1998, o inspetor-geral da CIA, Frederick R. Hitz, revelou a cooperação entre a CIA e o Departamento de Justiça com traficantes de drogas durante o governo Reagan, como parte de um esquema ilegal para financiar os Contras nicaraguenses, milícias usadas para derrubar o governo sandinista durante a década de 1980.

O livro de Jesús Esquivel, La CIA, Camarena e Caro Quintero, detalha com ampla evidência como a CIA ajudou a financiar o primeiro grande cartel de drogas do México, o cartel de Guadalajara, facilitando sua aliança com narcotraficantes colombianos, enquanto o chefão mexicano Caro Quintero treinava combatentes dos Contra em seu rancho em Veracruz.

As afirmações de Trump de que a Venezuela “esvaziou prisões e instituições psiquiátricas” para os EUA também são escandalosas; na verdade, a maior parte do êxodo venezuelano durante a última década foi impulsionado pelas sanções dos EUA que devastaram a Venezuela, causando mais de 100 mil mortes em excesso no país.

Por fim, o argumento de que o governo Trump está apoiando a democracia é desmentido por seus próprios esforços para instalar um regime policial nos Estados Unidos. Além disso, seus representantes políticos na Venezuela são liderados por María Corina Machado, a nova ganhadora do Prêmio Nobel da Paz que abraça abertamente o fascismo e a guerra contra o povo venezuelano. Machado é membro do fascista Foro de Madri e participou do golpe militar fracassado de 2002 contra o presidente eleito do país, Hugo Chávez. 

Um regime liderado por tais forças desencadearia um terror policial assassino contra a população para esmagar a oposição a um programa de austeridade brutal e à privatização e entrega das reservas de petróleo da Venezuela, as maiores do mundo, às gigantes energéticas dos EUA.

Durante sua coletiva de imprensa na quarta-feira, Trump brincou insensivelmente que as pessoas “nem sequer estão decidindo ir pescar” no sul do Caribe, provocando risadas dos seus assessores. A conversa confirma que a Casa Branca está sendo dirigida por gângsters que estão deliberadamente assassinando civis inocentes.

Historicamente, o presidente dos EUA Richard Nixon e seu secretário de Estado Henry Kissinger negaram publicamente o envolvimento da CIA na derrubada do presidente nacionalista de esquerda do Chile, Salvador Allende, em 1973. Agora, uma montanha de documentos desclassificados provou que a CIA e o Pentágono orquestraram sua destituição e a instalação da brutal ditadura militar de Pinochet.

A admissão de Trump na quarta-feira força um claro reconhecimento: o imperialismo dos EUA voltou às doutrinas intervencionistas descaradas de Theodore Roosevelt e Woodrow Wilson, invocando abertamente a Doutrina Monroe para afirmar que Washington é dona do hemisfério. Durante esse período, os EUA orquestraram ou participaram de várias invasões e golpes, incluindo no México (1914), Haiti (1915), República Dominicana (1916), Nicarágua (1912-1933), Cuba (1906, 1912) e Honduras (1911).

Com o imperialismo dos EUA alcançando o status de potência hegemônica mundial após a Segunda Guerra Mundial, a CIA deu continuidade a esse legado sangrento na América Latina, que se estendeu desde a derrubada de Jacobo Arbenz, na Guatemala, em 1954 — que buscava reformas agrárias limitadas que afetavam os interesses corporativos dos EUA — até décadas de golpes organizados secretamente que instalaram regimes militares assassinos responsáveis pela morte de dezenas de milhares de suspeitos de simpatias socialistas ou anti-imperialistas ao longo da década de 1990.

A dissolução da União Soviética pela burocracia stalinista abriu as portas para uma expansão maciça do militarismo dos EUA em todo o mundo. Após o início da Guerra do Golfo, David North explicou em uma palestra em fevereiro de 1991:

A história mundial chegou mais uma vez a um ponto em que testemunhará uma nova e horrível eclosão de guerras imperialistas de pilhagem e luta entre as próprias potências imperialistas pela dominação mundial. A classe trabalhadora agora verá o imperialismo como ele realmente é, buscando subjugar centenas de milhões de pessoas, enquanto prepara o terreno para a próxima rodada de brutais conflitos mundiais.

Não apenas esse prognóstico do Comitê Internacional da Quarta Internacional foi dramaticamente confirmado por três décadas devastadoras de guerras lideradas pelos EUA, mas o genocídio em Gaza e as ameaças contra a América Latina deixam claro que esse processo de recolonização atingiu um novo e perigoso ponto de inflexão em meio aos estágios iniciais de uma terceira guerra mundial.

“Hoje podemos dizer que os trabalhadores dos EUA e da Europa não podem ser livres enquanto seus governos capitalistas escravizam os trabalhadores do Oriente Médio, da África e da Ásia”, alertou North em 1991, e acrescentou:

A re-submissão dos povos coloniais, o retorno ao colonialismo, seria inevitavelmente acompanhado por um declínio drástico na posição social da classe trabalhadora nos Estados Unidos. A luta da classe trabalhadora americana, seus próprios interesses, são inseparáveis dos interesses dos trabalhadores de todo o mundo... A derrota da máquina de guerra americana no Oriente Médio seria um grande golpe a favor da libertação da classe trabalhadora em todas as partes do mundo e, acima de tudo, aqui nos Estados Unidos. Trabalhamos ativamente por essa derrota, lutando para mobilizar a classe trabalhadora contra essa guerra...

Hoje, os destacamentos militares para cidades como Washington, Chicago e Memphis preparam o terreno para uma ditadura fascista no país, justificada com as mesmas emergências fabricadas usadas como pretextos para a guerra na América Latina.

As manifestações “Sem Reis” (No Kings) contra a ofensiva autoritária de Trump, programadas em todo o território dos EUA e globalmente, representam uma oportunidade para mobilizar os trabalhadores contra o aumento do poderio militar no Caribe e a mudança de regime, sob a exigência da retirada de todas as tropas americanas das cidades dos EUA, da América Latina e de outras partes do mundo.

O presidente venezuelano Nicolás Maduro respondeu a Trump na quarta-feira, convocando todos os setores da sociedade americana a permanecerem “alertas para evitar a guerra no Caribe e na América do Sul”. Ele então passou a falar em inglês para declarar: “Não à guerra, paz”. 

O próprio governo chavista supervisionou ataques aos padrões de vida muito maiores do que os do presidente fascista da Argentina, Javier Milei. Maduro reprimiu repetidamente os protestos dos trabalhadores e se concentrou em fazer apelos ao imperialismo americano, mesmo depois que Trump rompeu todas as relações diplomáticas com a Venezuela na semana passada.

Maduro representa uma parte da burguesia nacional amarrada de pés e mãos aos mercados capitalistas controlados pelo imperialismo e é irreversivelmente hostil a qualquer mobilização dos trabalhadores que possa se voltar contra seus próprios interesses capitalistas no país ou no exterior.

O potencial para a unidade das lutas dos trabalhadores em todo o hemisfério contra todas as frações da classe dominante é demonstrado por uma onda crescente de protestos e greves em massa no Peru, Equador e Argentina, bem como nos próprios EUA. A campanha neocolonial brutal e abertamente assassina de Washington só vai adicionar lenha à fogueira crescente do sentimento anticapitalista e anti-imperialista e dar origem a lutas revolucionárias em toda a região.

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